Vidas Comparadas: Alexandre e Júlio César
Com o assassinato de seu pai, Filipe da Macedônia, aos 20 anos de idade, Alexandre, o Grande, assume o comando do exército macedônico e, após debelar insurreições entre os gregos e consolidar seu reinado, inicia uma longa campanha militar pela África e Ásia, prontamente marcada pela conquista do Império Persa. Nascido em 336 a.C., antes dos 30 anos de idade, mesmo com a inferioridade de seu exército em número de fileiras – malgrado seja importante registrar a notável organização e o emprego das sarissas (lanças altas), características do exército macedônico desenvolvidas ainda ao tempo de Filipe, de fazer inveja a outras forças militares – Alexandre já era Grande, senhor de um vasto império.
Fala-se que Alexandre nasceu predestinado a ser grandioso; sobre ser um descendente de Hércules, quando da consumação do casamento com Filipe, o útero de Olímpia, mãe de Alexandre, teria sido atingido por um raio. Tempos mais tarde, talvez o episódio com Bucéfalo possa ser interpretado como outro prenúncio de sua grandeza. Alexandre morreu aos 32 anos, sob a suspeita – não comprovada – de envenenamento. Ferido várias vezes, nunca perdeu uma batalha.
Júlio César nasceu em 100 a.C. Fala-se que, certa feita, lendo sobre a vida de Alexandre, o Grande, além de apreensivo, teria começado a chorar; indagado pelos presentes, teria dito, então, que com a mesma idade dele, Alexandre já havia conquistado muitos povos e países, ao passo que ele não havia realizado nada digno de memória. Sucessivamente, à frente de legiões do exército romano, Júlio César teria começado a trabalhar com mais empenho e subjugado diferentes nações que não reconheciam os romanos como senhores.
Júlio César construiu sua reputação pelos grandes feitos militares (destaque às Guerras Gálicas); ao lado de Crasso e Pompeu, formou o Primeiro Triunvirato, aliança política informal, responsável por governar de Roma por volta de 60 a.C. Quiçá essa divisão de poder fosse pouco às aspirações de César. Com a morte de Crasso, César se ocultaria longe de Roma, e, ao longo dos anos consumidos pelas Guerras Gálicas, além de adestrar seu exército, igualaria Pompeu em triunfos militares. Com o fim dessas guerras, Júlio César teria de dispensar seu exército e regressar à Roma. César retornou. Contudo, fê-lo com seu exército, marchando em direção à capital do Império para tomar o poder. Ao atravessar o Rubicão, teria dito a famosa frase alea acta est (“a sorte está lançada”). O resto é história. Aos 56 anos, assassinado por conspiradores, César faleceu em pleno Senado romano.
Por fim, quem foi Plutarco?
Plutarco foi um filósofo e biógrafo grego, responsável por algo em torno de 200 obras, muitas das quais resistiram ao tempo e estão disponíveis ainda hoje. Entre elas, escreveu uma série conhecida por Vidas Paralelas ou Vidas Comparadas, na qual o escritor, ao longo de variados volumes, examina a vida de grandes nomes daquilo que é entendido por civilização ocidental. Em específico, um dos volumes é dedicado a traçar uma breve biografia de Alexandre e de Júlio César, ora objeto deste resumo. Ao leitor, muito além dos mitos, fica a possibilidade de extrair profundas lições de estratégia e de liderança, entre tantas outras, de personagens que alteraram o rumo da história. Transcrevo duas passagens da obra:
“Então Dano, retornando à sala onde estavam seus mais familiares amigos e estendendo as mãos para o céu, dirigiu esta prece aos deuses: ‘Ó deuses, autores da vida e protetores dos reis e dos reinos, eu vos suplico em primeiro lugar me concedais a graça de restabelecer a boa fortuna da Pérsia, de sorte que aos meus sucessores deixe este império tão grande e tão glorioso como o recebi dos meus predecessores, a fim de que, ficando vitorioso, eu possa rivalizar com Alexandre em humanidade e honestidade, das quais ele usou em minha adversidade para com o que neste mundo me é mais caro. Ou então, se vier o tempo em que necessariamente, ou por vingança divina, ou por natural mudança das coisas terrenas, o império persa deva ter fim, ao menos não seja outro senão Alexandre que depois de mim ocupe o trono de Ciro’. A maioria dos historiadores admite que tudo isso se fez e se disse.” (Vidas Comparadas, LVI, Plutarco).
“Foi depois para a Síria e de lá, passando pela Ásia, teve notícias de que Domícío fora derrotado, por Fárnaces, filho de Mitrídates, e havia fugido do reino do Ponto, com poucos homens; e o rei Fárnaces, prosseguindo em sua vitória, com ambição insaciável, não se contentava em ter ocupado a Biiínia e a Capadócia, mas desejava ainda a Arménia, a Menor, incitando todos os reis, príncipes e potentados dessa marca, contra os romanos. César dirigiu-se imediatamente para aqueles lugares, com três legiões e apresentou grande batalha perto da cidade de Zela, na qual desbaratou todo seu exército e o expulsou do reino do Ponto; para dar a conhecer a rapidez dessa vitória, escrevendo a Roma, a Anício, um de seus amigos, disse estas três palavras somente: VENI, VIDI, VICI, isto é, cheguei, vi, venci. Estas palavras, porém, têm quase uma cadência semelhante, à da língua romana, uma graça de brevidade mais agradável ao ouvido do que em qualquer outra língua.” (Vidas Comparadas, LXV, Plutarco).