Oração para desaparecer
Oração para desaparecer
Socorro Acioli
Companhia das Letras, 224 páginas
Fenômeno de vendas, “Oração para desaparecer” confirma Socorro Acioli como uma das vozes mais populares da literatura nacional contemporânea . O segundo romance da cearense, publicado quase dez anos depois de “A cabeça do Santo”, parte de um argumento interessantíssimo: uma mulher acorda sob a terra.
Desmemoriada e com graves machucados, é salva pela rápida intervenção de um casal de portugueses numa pequena comunidade portuguesa chamada Almofala.
Caminhando entre o onírico e o real, Acioli desenvolve uma narrativa em que o fantástico é aceito sem nunca chegar propriamente a ser explicado, como se a irrealidade fosse parte indissociável da experiência humana, uma espécie de contraface daquilo que aceitamos racionalmente como verdade.
Cida, antes Joana, tem a identidade reconstruída a partir de migalhas de lembranças e desse amor, muito mais anunciado que propriamente sentido, por Jorge até que uma revelação encerra a primeira parte do livro e abre caminho para seu retorno.
Aluna de García Márquez na turma de 2006 da concorridíssima oficina de roteiros então ministrada pelo Nobel de Literatura, Acioli entrega um livro que parece moldado, de fato, para agradar um público leitor que se agrada de narrativas fechadas e bem explicadas.
Esse, a propósito, seja talvez a ressalva deste resenhista ao livro – de cunho meramente subjetivo: explica-se demais em ‘Oração para desaparecer’. Os arcos narrativos são apresentados, explicador, retomados, novamente explicados – quase como se para assegurar que não haja dúvidas, que a mensagem compreendida seja e-xa-ta-men-te aquela pretendida pela autora.
Há pouquíssimos espaços de sombra, lugares em que a narrativa permanece em suspensão, em que se permite ao leitor intuir e preencher o vazio com suas próprias impressões.
O didatismo – que não agradou ao resenhista – não chega a colocar xeque o valor do livro, sobretudo se considerarmos o seu papel na disseminação de uma literatura nacional inventiva e nordestina, ombreada por nomes como Verunschk (O som do rugido da onça), Gardel (A palavra que resta) e Jarid Arraes (Redemoinho em dia quente).