O filho de mil homens
Esta é a história de Crisóstomo, um pescador solitário que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Por outro lado, temos Camilo, um garoto órfão. Aos poucos, o livro constrói uma teia entre personagens ímpares, todos eles enjeitados, de alguma forma, e que acabam entrelaçados numa espécie de família.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura, do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. De início, os contos não parecem entrelaçados entre si, mas formam, ao final, um lindo quebra-cabeças.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.
A solidão, o cuidado mútuo, o amparar o outro, a solidariedade, o preconceito e o ser diferente, ser marginalizado, ser “fora do normal” (mas o que é ser normal?) são temas tratados de forma muito característica pelo autor.
Apesar de cada história ser absolutamente singular e das imperfeições de cada personagem, conseguimos encontrar algo de tão universal, como o sentimento de pertencimento, a vontade intrínseca de criar ou até inventar-se uma família e a procura pela esperança e felicidade. Essa obra é a única em sua sensibilidade e na forma como aborda o afeto e as relações humanas.
Valter Hugo Mãe consegue construir um livro inteiramente poético, carregado de frases impactantes sem a necessidade de rebuscamentos, o que contribui para a leitura fluir.
É impossível sair dessa leitura sem alguma modificação, no olhar, sentir ou pensar o mundo.
Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós. (p. 257)