Belo mundo, onde você está – Sally Rooney
Belo mundo, onde você está
Sally Rooney (trad. Débora Landsberg)
Companhia das Letras, 352 páginas
O novo livro de Sally Rooney foi um dos lançamentos mais aguardados de 2021, na esteira do estrondoso sucesso (de crítica e público) de “Pessoas normais” (Companhia das Letras, 2019). Em “Belo mundo…”, o leitor vai acompanhar a história de quatro jovens para quem a vida adulta tem caminhado aos tropeções.
Alice é uma escritora bem-sucedida que, após um período de internação, resolve fixar residência em uma pequena cidade do interior da Irlanda. Eileen, melhor amiga de Alice, trabalha como editora em uma revista literária e mantém contato permanente com Simon, católico praticante e seu amigo de infância, que trabalha como consultor de um partido político de esquerda. O elo mais jovem da equação é Felix, a quem Alice conhece no Tinder pouco depois de chegar à cidade, e que trabalha mecanicamente em um armazém despachando produtos que foram comprados pela internet.
Todos eles, ainda que por razões distintas, sentem-se deslocados e, em certa medida, incapazes de lidar com esse mundo em colapso, no qual a humanidade está à beira da extinção e, no entanto, as pessoas continuam a se preocupar com as trivialidades mais mundanas.
Rooney consegue entregar um livro consistente, que adensa sensivelmente as temáticas até então abordadas nos seus livros anteriores. Embora não seja tão bem construído como “Pessoas Normais”, “Belo mundo…” dá voz a inquietações complexas de uma geração que assiste, em tempo real, ao fracasso do modelo econômico neoliberal e já começa a perceber que as fantástica promessas da tecnologia têm uma dimensão muito perversa. Tudo isso sem abandonar lampejos de ternura que parece tentar responder à indagação do título. Como este:
“Eu estava cansada, era tarde, quase dormia no banco de trás do taxi quando me lembrei de um jeito esquisito que, aonde quer que eu vá, você está comigo, assim como ele, e, enquanto vocês dois viverem, para mim, o mundo será belo” (Trecho pinçado da quarta capa).