Maniac – Benjamin Labatut
Maniac
Benjamin Labatut (trad. Paloma Vidal)
Todavia, 357 páginas
O espaço em que Labatut se sente mais confortável é o da turbulência. Se no seu livro anterior (‘Quando deixamos de entender o mundo’) a história se desdobrava entre cientistas famosos (Einstein, Grothendieck, Schrödinger, Heisenberg…) e o tênue limite entre genialidade e loucura, em MANIAC as atenções são centradas em um único extraclasse, o matemático húngaro John von Neumann.
Considerado um dos maiores gênios do século XX, von Neumann parece ter vivido cem vidas em uma única. Inicialmente dedicado a encontrar uma base matemática definitiva para a realidade, livre de contradições e paradoxos – projeto demolido a partir de uma única constatação de Gödel –, o húngaro emigra para os Estados unidos, onde passa a trabalhar com questões afeitas à Física Nuclear, a integrar o Projeto Manhattan, a desenvolver a teoria dos jogos (ramo da Matemática muito afeito à Economia) e, por fim, a se dedicar profundamente à consolidação da teoria cibernética.
O MANIAC (ou Mathematical Analyzer Numerical Integrator and Computer), que dá nome ao livro, é fruto precisamente da pesquisa de von Neumann. Pensado para fins militares – permitir a realização de cálculos complexos necessários à construção da bomba de hidrogênio –, o computador serviria também ao propósito do seu arquiteto, cuja intenção era matematizar tudo e, assim, desencadear revoluções na biologia, economia, neurologia e cosmologia.
Labatut arrisca mais nesse livro. Se, no seu antecessor, as histórias eram condensadas e, em certa medida, concatenadas por um narrador único, em MANIAC as vozes se pulverizam e acabam gerando um efeito indesejado (e paradoxal) de fragmentação e ubiquidade em torno da figura de von Neumann. É como se o húngaro tivesse parte em todos os avanços científicos do século XX, em uma espécie de endeusamento que hiperdimensiona o personagem e inferioriza todos os demais estudiosos.
Ainda assim, é um livro interessante, em que o processo de ficcionalização de personagens que atuaram diretamente no contexto da evolução científica do século passado é capaz de prender a atenção do leitor – e, sobretudo na última terça parte do livro, lançar uma nuvem de incerteza sobre os reflexos que o avanço tecnológico produzirão nas nossas vidas.
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“Eu costumo me perguntar sobre a consciência dos animais, como deve ser mais obscura do que a nossa, mais onírica e fugaz, pequenos pensamentos como velas meio queimadas, seus contornos nunca completamente formados. E talvez isso também seja verdade para muitos de nós que precisamos nos esforçar para pensar com clareza. Conheci muitas pessoas inteligentes na vida. Conheci Planck, Von Laue e Heisenberg. Paul Dirac era meu cunhado, Leo Szilard e Edward Teller estão entre meus amigos mais próximos, e Albert Einstein também era um bom amigo. Mas nenhum deles tinha uma mente tão ligeira e aguda quando Janos von Neumann. Comentei isso na presença desses homens várias vezes, e ninguém nunca contestou.
“Só ele estava completamente acordado” (p. 62)