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Todas as cores do céu – Amita Trasi

O livro tem como pano de fundo a Índia do final da década de 90, retratando sua estrutura social dividida em castas e a submissão do povo indiano às suas tradições.

 

A protagonista da obra, Mukta, nasce em uma casta de mulheres em, em respeito aos deuses, devem colocar seus corpos à disposição dos homens. Seu destino, então, já está traçado desde sua infância: inevitavelmente ela será uma prostituta. Entretanto, reviravoltas acontecem e Mukta tem a sorte de ser salva por um homem desconhecido de casta superior, que a leva para morar junto à sua família. Lá ela conhece Tara, e as diferenças entre as garotas põe em jogo a relação de amizade que estava se desenhando até então.

 

Quando a situação parece estar melhorando, Mukta é sequestrada e retorna à vida que deveria se submeter.

 

A obra é narrada em capítulos que se alternam, entre o ponto de vista de Mukta e o ponto de vista de Tara. Já adulta e após uma temporada vivendo nos Estados Unidos, Tara retorna à Índia determinada a descobrir o paradeiro de Mukta.

 

A narrativa costura passado e presente, que se encontram ao longo da história até que conseguimos, aos poucos, completá-la.

 

A leitura é fluida e a autora consegue traçar um retrato fiel da Índia contemporânea, marcada pela exploração do sistema de castas e a pobreza das grandes cidades.

 

Através da leitura podemos compreender como a casta inferior faz referência não apenas ao sentido econômico, mas também ao sentido de valor atribuído às pessoas. Alguém de uma casta inferior jamais valeria o mesmo que alguém da casta superior. O quanto você possui e, também, onde você nasceu, são definidores do seu valor como ser humano.

 

Não é um livro fácil de ler, a história é sofrida, traz diversos gatilhos (estupro, violência sexual, tráfico de seres humanos), mas também é extremamente rico do ponto de vista cultural e histórico, necessários para ampliar nosso olhar crítico sobre o mundo e práticas que até hoje seguem acontecendo.

 

Amita Trasi nos leva pelas ruas de Bombai, pela vida de inúmeras mulheres, por segredos de família, amizades verdadeiras, laços de sangue, e diversos sentimentos brotam durante a leitura.

 

“Dizem que o tempo cura tudo. Não acho que seja verdade. À medida em que os anos passaram, comecei a achar estranho como coisas simples ainda podem nos fazer lembrar de tempos terríveis ou como o momento que nos esforçamos tanto para esquecer se torna nossa lembrança mais nítida.”

Colunista

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Hannah Riff
Graduada em direito. Advogada licenciada OAB/PE. Assessora de membro do Ministério Público de Pernambuco. Graduanda em Psicologia pela Faculdade Pernambucana de Saúde. Estagiária do IMIP. Leitora por paixão. Parte dessa foz, o rio da leitura, corre em mim desde cedo. Leio porque entendi que as palavras também nascem da coragem de sentir. Esse lugar assustador e mágico de estar vulnerável e por isso, deliciosamente humano. Ler, para mim, é estender uma ponte até o peito. Fazer do papel um espelho. O percurso é entregar-se a cada página, a um sentir, a algo sentido. Espero nessa jornada poder dividir um pedaço desse amor e dessa entrega com vocês também.

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