Great Circle
Great Circle[1]
Maggie Shipstead
Alfred A. Knopf, 597 páginas
No seu mais novo livro, Shipstead se propõe uma tarefa bem complicada: a de contar a história de duas personagens que, embora não tenham sido contemporâneas, estão ligadas por suas histórias de vida e pela arte.
Marian Graves e seu irmão (Jamie) são criados pelo tio em uma propriedade a Oeste do Estado de Montana depois que sua mãe desapareceu e seu pai foi preso – e, depois de libertado, desapareceu. Desde muito nova, Marian dava provas de que não se submeteria aos padrões que a sociedade norte-americana do início do século XX esperava dela. Apaixonada por aviação, não descansa até tomar as primeiras aulas, dominar essa arte e, anos mais tarde, se lançar à impossível tarefa de circum-navegar o globo (do Polo Norte ao Polo Sul).
Um século depois, somos apresentados a Hadley Baxter. Escolhida para interpretar Marian em um filme que tenta reconstituir o desaparecimento da aviadora na Antártica, Hadley também é órfã, foi criada pelo tio e não pretende subjugar suas vontades e desejos aos padrões que a sociedade (agora do século XXI) pretende lhe impor. Em um custoso processo para espantar seus próprios demônios, Hadley vai encontrar em Marian – e nas palavras deixadas por ela – uma inspiração para se autoafirmar.
‘Great Circle’ foi finalista do Booker Prize 2021 e do Women’s Prize For Fiction de 2022. Com uma prosa segura, Shipstead entrega um livro que prende a atenção do leitor e responde bem ao desafio assumido. Os deslizes (passagens que poderiam ser suprimidas e dão a sensação de que a autora teve receio de perder o fio condutor da narrativa; certa predileção por uma das personagens, que termina por desequilibrar o que deveria ser um equilíbrio de vozes), nesse contexto, não comprometem a experiência de leitura. Vale a recomendação!
“Eu cheguei a acreditar que veria o mundo, mas existe mundo demais e vida de menos. Eu cheguei a acreditar que completaria alguma coisa, mas agora eu duvido que qualquer coisa possa ser terminada. Eu achei que não teria medo. Eu achei que viria a ser mais do que sou, mas em vez disso eu sei que sou menos do que pensava. Ninguém deve ler isso. Minha vida é a única coisa que tenho. E ainda assim, ainda assim, ainda assim.[2]” (p. 8)
Notas:
[1] Depois que esta resenha já tinha sido feita, soube que livro foi traduzido e publicado no Brasil pela editora Alta Novel com o título ‘O grande círculo’.
[2] Tradução livre do colunista