O Vermelho e o Negro
Há quem afirme ser esse livro um dos maiores romances já publicados pela literatura francesa, o que implica dizer, implicitamente, se tratar de um clássico mundial. E, de fato, estamos diante de uma obra imortalizada pelo escritor Stendhal, cujo lançamento se deu no início do século XIX. Em “O Vermelho e o Negro”, o autor desenvolve a intrigante e comovente história de Julien Sorel, jovem morador do interior da fictícia cidade francesa Verrières, de aproximadamente 19 anos, filho de carpinteiro que, por ser estudioso com aspirações eclesiásticas – o que divergia substancialmente do padrão familiar -, para além do domínio da língua latina, é contratado para a função de preceptor da família do Sr. De Renal.
Naquela época não havia, como hoje, ensino público indistinto às classes sociais, de modo que a formação intelectual da nobreza, não raras vezes, era desenvolvida através de uma espécie de professor particular – o preceptor. Então, Julien Sorel, à contragosto de seu pai e irmãos, que, como já mencionei, eram carpinteiros, é contratado para educar os filhos do prefeito da cidade, o Sr. De Renal.
Uma vez lá, a esposa do Sr. De Renal, uma mulher na casa dos 30 (trinta) anos, se depara com as peculiaridades físicas e intelectuais de Julien Sorel, o que a impele a, paulatinamente, admirar e a apaixonar-se por Julien, o preceptor de seus filhos. A história inicia-se a partir dessa trama envolvendo a “mulher adúltera”, que, inclusive, irá influenciar outros grandes clássicos da literatura brasileira. Afinal, Capitu traiu ou não Bentinho? Pois é, a influência da literatura francesa é marcante em ultramares, apesar de não ser o tema novidade para a época em que fora publicada. Há, por exemplo, a notória obra de Gustave Flaubert, Madame Bovary, conquanto publicada em 1856, também cuidou da “mulher adúltera”.
Seja como for, de volta à história de nosso herói Julien – maneira, aliás, pela qual o escritor se refere ao personagem principal -, ele descobre um novo mundo, uma nova sociedade, uma nova maneira de se viver a vida em alto padrão social durante a sua passagem na casa do Sr. e Sra. De Renal. Essas nova perspectiva de vida traz indeléveis consequências, inclusive uma forma combativa e, até certo ponto, raivosa de se lidar com as intempéries do dia a dia. Julien tem em Napoleão Bonaparte o seu padrão de conduta, já que o admirava sobremaneira. Essa admiração, no entanto, não poderia ser externada aos quatro ventos, haja vista a enorme divergência política havida entre os monarquistas e os liberais da época. Esse deslumbre por Napoleão o coloca em dilema existencial interno, dada a possibilidade de trilhar a carreira militar, daí porque o título do livro ser o “vermelho” (farda das tropas francesas à época) e o negro (a roupa eclesiástica utilizada pelos padres).
Dentre inúmeras circunstâncias de que somente ao ler a obra o leitor poderá conhecer, há uma em específico que merece destaque: a dissimulação e a hipocrisia de alguns personagens, em especial a Sra. De Renal. Com efeito, ao longo da narrativa, quando há relevante desconfiança a respeito da suposta traição envolvendo Julien e a Sra. De Renal, resolvem transferi-lo para outra cidade…. Paris. Aqui, realmente, existe uma nova virada em nosso personagem, já que, a partir dessa ocasião, ele se deparará com a nobreza parisiense. Imaginem que, para o padrão da cidade de Verrières, Julien já fora sobremodo impactado, mas, daqui para frente, em Paris, essa revolução interna se tornara ainda mais evidente.
Em Paris, Julien identifica o quanto algumas pessoas da nobreza ostentam o status apenas pela sorte de assim terem nascido, e não por alguma característica que as distingam substancialmente das demais. Essa constatação gera em Julien um pouco de revolta e o força a tomar algumas atitudes, a fim de ascender socialmente. Nesse contexto, ainda sofrendo pelo distanciamento de seu amor (será que é amor?), a Sra. De Renal, ele se vê obrigado a conquistar a filha do Sr. La Mole, casa para a qual fora transferido.
A partir daí, Julien passa a ter como missão conquistar o coração Mathilde, talvez por meios escusos e previamente calculados, que, como falei, é a filha do Sr. La Mole, autêntico representante do estilo da alta nobreza parisiense. A história passa a se desenvolver dentro desse contexto entre os amores de Julien e as suas deletérias decisões.
Por fim, com o cuidado para não invadir o universo de percepções e de análise dos futuros leitores, paro por aqui, sublinhando a recomendação de leitura. Um grande abraço a todos.