A promessa – Damon Galgut (Trad. Caetano W. Galindo)
A promessa
Damon Galgut (Trad. Caetano W. Galindo)
Record, 306 páginas
‘A promessa’ é um livro raro, desses que não apenas nos torna pessoas melhores, mas que nos deixa sentir que esse movimento está em marcha dentro da gente. Pouco a pouco. Sem pressa, mas sem cessar.
O enredo é relativamente simples: na África do Sul cindida pelo apartheid, Rachel Swart está prestes a morrer. Antes, faz com que seu marido prometa que transferirá para a empregada Salome a propriedade da casa em que ela mora. Acontece que a promessa nunca é cumprida, mesmo depois que os filhos (Anton, Astrid e Amor) enterram o pai; mesmo depois que o passar dos anos transforma cada um dos remanescentes.
Lançando mão de um narrador onipresente e onisciente, Galgut rege a narrativa em uma espécie de plano sequência, sem interrupções no interior dos capítulos e com um permanente ajuste de foco, de modo que, em uma mesma “tomada”, temos acesso a dois, três, sete personagens, cujos caminhos se cruzam, se afastam e seguem rumos independentes.
Se no interior dos capítulos a narrativa não para, entre eles o tempo se dilata e, quando a história recomeça, lá se vão meses ou anos. Aqui, mais uma prova do domínio de Galgut sobre a narrativa: de alguma forma, nos espaços de silêncio, ele consegue fazer com que os traumas e complexidades das personagens sejam maximizados. Como se por mágica, o tempo que passa no silêncio não afasta o leitor, mas o aproxima das histórias, gerando uma espécie de tecido no qual passado e presente se misturam de maneira indissociável.
Um livro extraordinário!
“O tempo corre diferente para quem está excluído do mundo. Passa como o trânsito em certos momentos do dia, ou como uma certa sombra que caminha lenta pelo chão, ou como o seu próprio corpo, que te mostra as suas necessidades. Parece ir escorrendo devagar, mas os dias piscam velozes e logo o seu rosto mudou, não é mais exatamente seu. Ou talvez seja mais você do que antes, também é possível” (p. 212)