Precisa-se de estudantes de Direito
Precisa-se de estudantes de Direito[1]
Precisa-se de estudantes de direito que não queiram saber apenas de leis e decisões judiciais, posto que o Direito é um saber rente a vida. A vida ultrapassa os limites dos códigos e as portas dos tribunais. É necessário conhecer também de arte, literatura, música; ouvir a voz do povo, a voz das ruas.
Um estudante que se porte bem, que fale corretamente e que se sente direito. E que ande com roupas limpas (não precisam ser novas ou caras), de banho tomado, cabelos arrumados e dentes escovados.
Um estudante de direito que saiba dizer bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, com licença, obrigado e desculpe; que seja gentil com os porteiros, auxiliares de serviços gerais, faxineiras, motoristas de ônibus e, especialmente, com seus pais e familiares.
Um estudante de direito que fale olhando nos olhos dos outros; que preste atenção quando estão falando com ele e que faça perguntas quando não entender.
Um estudante que tenha um sorriso espontâneo para todos e que não fique de cara emburrada na maior parte do tempo.
Um estudante de direito que seja sonhador e inconformado com as injustiças que existem no mundo; que acredite que a mudança que queremos ver se inicia a partir de nós mesmos.
Procuram-se de estudantes de direito que não acreditem que cabe apenas ao Estado a promoção de reformas sociais, e que se comprometam com novas práticas sociais a partir de projetos de extensão universitária, voluntariado, iniciativas das igrejas e de diversos grupos da sociedade civil organizada.
Daqueles que sejam autênticos; que não aceitem ser falsificações baratas de si mesmos ou dos outros; que tenham coragem de discordar de seus colegas e professores quando apresentem teses que ferem suas consciências e crenças.
Estudantes de direito que queiram aprender um pouco de tudo, até mesmo sobre “inutilidades” tais como direito romano, filosofia e história. Pois, o conhecimento transforma; o conhecimento deve estar a serviço da vida, e não dos nossos interesses pessoais.
Precisa-se de estudantes de direito que não reduzam a finalidade do curso a mera obtenção do diploma de bacharel. A finalidade de qualquer curso universitário deve ser o aprendizado, sob pena do diploma não passar de mero ornamento emoldurado na parede sem qualquer outra serventia.
Um estudante ávido por ler bons livros. Alguém que prefira passar o tempo conversando com sua mãe ou brincando com seus irmãos, cultivando virtudes e contemplando o belo; em vez de desperdiçá-lo com vícios os mais diversos.
Um estudante daqueles que respondem a um pedido de ajuda com um “pode contar comigo”.
Um estudante que não seja “esperto” ou “malandro”; que não recorra a soluções fáceis como o plágio e a compra de trabalhos. Construir conhecimento demanda esforço. Sem esforço não existe progresso na vida pessoal e profissional.
Um estudante que prefira perder o estágio ou a monitoria, a ter que precisar cometer uma desonestidade.
Um estudante que não queira a todo tempo chamar atenção para si mesmo; e que saiba que ninguém faz sucesso sozinho. Um é um ser gregário, que necessita naturalmente manter relações sociais, seja por motivos altruístas ou egoístas. A falta de atributos físicos fez o homem unir-se a seus iguais para sobreviver. O que era uma necessidade nas sociedades primitivas, tornou-se uma vantagem nas sociedades contemporâneas: somos mais eficientes quando trabalhamos em equipe.
Um estudante de quem os colegas gostem. Daqueles que não façam perguntas apenas para “testar” o professor, mas porque tem o desejo sincero de aprender.
Um estudante que não fique falando e pensando apenas sobre si mesmo, e que não sinta pena de si mesmo. E que também não culpe seus colegas e familiares de seus insucessos, porque sabe que somos responsáveis por nossas escolhas.
Um estudante que seja amigo de seus pais, e que seja mais amigo deles que de qualquer pessoa.
Um estudante que faça os outros se sentirem bem quando estão perto deles; que não maltrate e nem deixe maltratar os outros.
Um estudante que não seja arrogante, piegas ou afetado; mas que seja alegre, saudável e cheio de vida.
Procura-se este estudante: seus familiares, sua universidade, seus professores, todos o querem.
Referências:
[1]Livremente inspirado no texto “Boy wanted”, de Frank Crane. Dedico este texto aos meus alunos dos cursos de graduação onde leciono ou já lecionei.
Parabéns Drº Venceslau!!!!! Palavras escolhidas com Maestria e a competência de sempre de um jovem prodígio que analisa a vida sobre as mais diferentes perspectivas. Excelente Texto.