Direito Societár… what?
Enquanto voltava de Uber da casa de uma amiga neste final de semana, o motorista me perguntou qual era minha profissão. Ao saber que era advogada, ele imediatamente questionou se eu trabalhava com processo, com imposto ou com direito trabalhista. Quando expliquei que escrevia contratos e trabalhava com Direito Societário, ou melhor, me corrigi, com “Direito Empresarial”, fui prontamente surpreendida com a resposta: “Eita! Essa especialidade aí é nova, hein doutora?”.
E não é que é exatamente isso que parece? Em uma sociedade que tanto privilegia o conflito e que orgulhosamente já conquistou alguns títulos em razão de seu grande número de processos[1], não é de espantar que um advogado que trabalhe no mundo extrajudicial ou que gaste maior parte do seu tempo prevenindo um litígio – ao invés de remediando-o – não seja (re)conhecido pela população em geral. Ainda mais, ouso dizer que este advogado muitas vezes não é conhecido sequer no âmbito jurídico.
Durante toda a faculdade de Direito pouquíssimos foram os colegas que demonstraram interesse em estudar o ramo do Direito Empresarial, quem dirá o Direito Societário (terminologia que quero levar o leitor a se familiarizar, para, na prática, diferenciar o estudo exclusivo das sociedades empresárias, seus atores e suas relações entre si).
Digo mais: em toda a faculdade de Direito, devo ter conhecido um ou dois professores que realmente se dedicavam ao estudo e à atuação com o Direito Empresarial – e sim, aqui menciono Direito Empresarial como um todo, porque seus campos de atuação abarcavam tudo que dizia respeito a “empresas”, incluindo-se recuperação judicial e falência, direito imobiliário e processos civis que envolviam empresas. Todo este distanciamento era então reforçado quando se chegava à disciplina de Direito Empresarial I para estudar as ultrapassadas sociedades em comandita e para perder tempo a discutir o sexo dos anjos (tratando da diferença entre denominação e firma, por exemplo); ou, ainda, quando se chegava à disciplina Direito Empresarial II para estudar (tão somente) os burocráticos títulos de crédito.
A ideia desta coluna é tornar o Direito Societário interessante, acessível e prazeroso. É mostrar a todos que não tiveram uma boa primeira impressão do Direito Societário que ele é uma verdadeira joia. O Direito Societário é intimamente ligado à economia, aos negócios, à circulação de informações e valores; é, ainda, por onde passa toda a inovação do nosso século. Ele é o campo do Direito que mais permite ao jurista inovar, criar e extrapolar o texto legal. Nele, não há espaço para o tradicional formalismo, para o juridiquês sem sentido e para os padrões de séculos atrás que já não estão alinhados com a nossa época.
É com extrema felicidade que convido todos os leitores a embarcar neste mundo dinâmico, prático e desafiador que é criar o Direito Societário diariamente!
Referências:
[1] Brasil É Campeão Mundial de Ações Trabalhistas, 2015. http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,AA1453494-9356,00-BRASIL+E+CAMPEAO+MUNDIAL+DE+ACOES+TRABALHISTAS.html
Brasil: Um país de 80 milhões de processos judiciais. https://www.atribuna.com.br/opiniao/mauricioguimaraescury/brasil-um-pais-de-80-milhoes-de-processos-judiciais
Amei! Viva o direito societário tão amado! Ansiosa pelos próximos.